Mais uma review COMPLETA de Baldur's Gate 3

Bom, a essa altura já fazem mais de 20 dias que Baldur’s Gate foi lançado, e só agora eu terminei e posso dar meu veredito final. Ao contrário da maioria dos sites, não gosto de dar notas, preferindo destacar os prós e contras, dividindo em várias sessões, e no final dar uma resumida para quem não está afim de ler uma review muito longa.

Antes de tudo, quero deixar claro que sou um fã ENORME de RPG e Dungeons & Dragons, joguei Baldur’s Gate 1 e 2, joguei Neverwinter Nights 2, então são coisas que literalmente tem um lugar muito quentinho no meu coração e portanto deve-se levar em conta que posso sim ser UM POUQUINHO, BEM POUQUINHO enviesado em favor do jogo. Também sou grande fã de outros jogos com sistemas baseados em D&D, como Pathfinder: Kingmaker.

Dito isso, posso já antecipar que para mim Baldur’s Gate 3 é o jogo do ano (embora Zelda provavelmente vença o prêmio oficial, na minha opinião, puramente pelo marketing do nome Zelda), além de merecer vencer em muitas outras categorias que colocarei no final. Então vamos dividir primeiro então os pros em múltiplas sessões. Também vou tentar manter a review completamente livre de spoilers, embora algumas premissas básicas que acontecem logo no início são contadas.

 

PROS

 

A NARRATIVA:

Esse foi um ponto que me surpreendeu MUITO positivamente. Todos os Baldur’s Gate anteriores (incluindo suas expansões) envolviam apenas em derrotar um vilão 100% maligno que queria de alguma forma se tornar um deus. Contudo, eram histórias bem contadas, porque O JEITO de contar a história pode acabar superando esse tipo de clichês (coisas que jogos aclamados como, ao meu ver, Dragon Quest 11, não fazem). E Baldur’s Gate 1 e 2 fizeram isso muito bem, com personagens cativantes e mistérios se revelando aos poucos.

Mas se Baldur’s Gate 1 e 2 fazem isso de forma boa, Baldur’s Gate 3 supera o que eu esperava da narrativa em todos os sentidos. Embora sim, no final tenha um “vilão 100% mal que você tem que derrotar”, a maneira como as coisas vão acontecendo e a história vai sendo contada são fenomenais.

A começar com a cena introdutória, uma das cenas introdutórias mais espetaculares que já vi em um videogame. Logo no início, do ponto de vista do seu personagem, que está preso, você vê um devorador de mentes (raça de sociedade escravagista e maldosa em D&D) inserindo uma larva através do olho de outra personagem, e depois, ainda do seu ponto de vista, inserindo uma larva no seu olho também. A agonia dessa cena supera a de muitos filmes  de terror. Para os que são adeptos na “lore” de D&D, sabem o que isso significam: Os devoradores de mentes enfiam essas larvas em outros seres e, internamente, essas larvas-parasitas acabam transformando seu hospedeiro em devorador de mentes também, que acaba tendo sua mente escravizada. Ele faz isso enquanto pilota uma nave dos devoradores de mentes, que é uma nave que atravessa os vários tipos de planos que existem em D&D (plano astral, infernal, material [onde se passa a maior parte do jogo, o “mundo” digamos assim, etc), e como essa nave acaba sendo atacada pelos Githyanki (inimigos mortais dos devoradores de mentes) com seus dragões e a nave acaba caindo e o jogador tem aquele bom e velho começo de “perdido na praia tentando achar respostas”, não muito diferente de Divinity: Original Sin 2.


Que tal isso bem no seu olhinho?


O jogador descobre isso logo no início do jogo, e, então, precisa se livrar dessa larva o mais rápido possível, certo? O jogo vai oferecendo vários caminhos para tentar encontrar uma cura. Mas coisas estranhas vão acontecendo: você não apresenta sintomas de virar um devorador de mentes, por mais que o tempo passe. Você também tem um artefato, dado por uma companheira sua, que age de maneira estranha. Você então vai descobrindo o que está te protegendo de ser controlado, enquanto vários outros parecem estar sendo controlados. Mas conforme o jogo vai se desenvolvendo e a trama vai se desenrolando vão surgindo mais e mais perguntas: quem é essa pessoa aqui? E essa outra? Em quem eu posso confiar? Quais são os objetivos e motivações de cada um para agir como agem e que segredos estão ocultando? Nesse sentido, o jogo faz justiça a Game of Thrones nas suas melhores temporadas quando há vários personagens com motivações desconhecidas, muitas vezes resultando em alianças frágeis, traições, etc. Até mesmo perto do final do jogo, quando você acha que já sabe tudo o que está acontecendo, plot twists e grandes revelações continuam. As cutscenes são absolutamente memoráveis, com as minhas favoritas sendo a cutscene inicial e a cutscene do “Angemon” (falando assim para quem viu a cutscene saber o que é, mas sem dar spoilers).

Patamon digivolve para...


Parte do que vai tornando a narrativa tão enriquecedora também são os diálogos muito bem escritos e atuados. Devo acreditar no que esse personagem tá falando? Ele faz um caso convincente. Mas o que esse outro falou faz sentido também. Em que acreditar? O que fazer? E isso também vale para destacar o enorme carisma da grande maioria dos personagens, como a extrema fofura de Umbralma ou a violenta porém querida Karlach.

A agência que o jogador tem dentro dessa narrativa também é incrível: há um grande número de escolhas a se fazer e o jogador pode, se quiser, sair matando quase todo mundo, assim como em outros jogos da Larian. O jogador pode ser mau, bom, ou uma mistura dos dois. Há até um “background” específico para os jogadores que queiram ser especificamente cruéis, o “dark urge”.

O jogo é longo e cansativo? É, mas é cansativo de um bom jeito. Ele não te cansa o suficiente para você simplesmente querer largar, como muitas vezes Divinity me fez, parecendo que se estendia puramente por se estender, sendo que podia ter terminado a história muito antes. Baldur’s Gate 3 parece ter uma história muito melhor estruturada que justifica as centenas de horas de jogo que você gasta nele.

E as escolhas que o jogador tem pela frente, em especial em relação aos seus companheiros, são bem difíceis e envolvem emocionalmente de forma espetacular o jogador na trama e na relação com seus companheiros. Para quem andava com saudades de RPGs com escolhas difíceis no melhor estilo old school da Bioware, Baldur’s Gate 3 é um prato cheio dessas escolhas.

Enfim, a maneira que a história é contada, as coisas e os personagens vão se revelando é, ao meu ver, nada menos que espetacular. E boa parte disso se deve aos...

 

COMPANIONS

Clássicos de RPG sempre necessitam de bons companheiros (sem trocadilhos, Scorsese). Eles muitas vezes podem até carregar a história quando a narrativa principal não é tão boa, como é o caso, ao meu ver, de Mass Effect 2, que não tem uma trama principal tão interessante, mas tem companheiros tão bons que você se vê envolvido por uma trama talvez não tão boa por causa deles e das diferentes maneiras que cada um está envolvido nela.

Nesse caso, não só a narrativa é excelente, como os companheiros têm muito a acrescentar. Escrevi recentemente sobre o que faz um bom personagem, e quase todos os companheiros de Baldur’s Gate 3 são personagens incríveis, mesmo os que gostamos e os que não gostamos. Como eu disse, é melhor sentir desgosto por um personagem do que indiferença. Apenas um personagem, ao meu ver, ficou bem “oco” e parece que não tem muito papel ali além do que ele faz no ato 1 (Halsin). Desde uma clériga gótica sensível com um passado misterioso, um ladino cria vampírica com a voz mais nojenta do mundo, até uma fascistinha em busca de redenção (e outros companheiros de Baldur’s Gate 1 e 2, que retornam de maneira excelente e acrescentam ainda mais a seus personagens), Baldur’s Gate 3 cria uma excelente equipe e, para mim, é sempre muito difícil escolher apenas 3 para irem comigo nas aventuras. Queria, como em Baldur’s Gate 1 e 2, fazer uma equipe de 6, mas isso com certeza tornaria o jogo ainda mais comprido e complexo do que já é. Como todo bom RPG, eles têm suas missões pessoais, e as escolhas dentro delas vão ficando cada vez mais difíceis e mudando cada vez mais os personagens. Lembrando, também, que você pode escolher um dos personagens da trama para ser o seu personagem principal, o que muda totalmente o ponto de vista de como você vê as coisas, ao invés de criar seu próprio personagem.


Tem como dizer não?


O romance é algo que pode ser criticado: como é de costume nos jogos da Larian, todos os personagens são “playerssexual”, ou seja, se tiverem uma boa relação, vão querer pegar o personagem principal. Em Divinity já era assim, mas pode se haver uma crítica a ser feita em Baldur’s Gate 3 porque, nesse jogo, são os personagens que tomam a iniciativa, muitas vezes com um romance surgindo “do nada” ou até mesmo sendo sexualmente agressivos, mesmo que em nenhum momento você tenha flertado com eles. Portanto, ao invés de esperar que o personagem tente flertar com os personagens (como a maioria dos RPGs, inclusive os anteriores da Larian), a Larian preparou os NPCs para irem para cima do personagem, o que para mim é uma escolha de design ruim. E isso infelizmente também virou desculpa para jogadores de extrema-direita classificarem o jogo como “woke” porque tem “gays dando em cima de você” ou “você se vê forçado numa cena gay” (visto que muitas vezes o jogo também não deixa tão claro que é um flerte). É só ver o fórum do jogo na Steam que infelizmente se encontram várias dessas discussões. Fazer todos os personagens serem “playerssexual” também não é uma escolha que me agrade, embora satisfaça os jogadores, já que podem ter romance com quem quiserem, visto que não existem NPCs “romanceáveis” que sejam homossexuais ou heterossexuais. No entanto, há alguns NPCs que encontramos ao longo do caminho que são gays (inclusive, uma cena gay do jogo para mim é uma das mais memoráveis e fofas de todo o jogo, ocorrida no final do ato 2 caso você tenha tomado as escolhas certas).

Felizmente, eu não passei por essas experiências: os personagens que queriam algo comigo eu consegui falar “não” numa boas e não entrei em nenhum “romance acidental”, e consegui formar laços de amizade ao invés de amorosos e consegui formar o laço amoroso com quem eu queria desde o início. Ainda assim, isso não estraga a personalidade e o carisma desses personagens, que envolvem o jogador desde o início em seus mistérios e suas causas pessoais.

Um aspecto negativo que eu gostaria de colocar são alguns personagens que retornam de Baldur’s Gate 1 e 2. Eles são basicamente lendas vivas, mas são tratados no jogo como se fossem aventureiros iniciantes assim como você, e, quando são NPCs, morrem facilmente em lutas se você não cuidar deles, o que acho um desrespeito com a história desses personagens. Há também outra personagem que volta não como companion, mas como vilã, o que também não gostei, pois ela ser vilã não é algo canônico (nem sequer o fato de ela estar viva).


O FINAL

Eu não tenho como falar desse jogo sem falar do final. Poucas pessoas terminaram o jogo (visto que ele é comprido, as pessoas trabalham, etc), e muitos dizem que não gostam do Ato 3. Para mim o Ato 3 (o último) é talvez o melhor ato, é quando as coisas finalmente se desenrolam e quando tudo vai começando a fazer sentido e até quando você achava que já sabia de tudo, plot twists continuam acontecendo.

Mas a maneira que a batalha final ocorre é fenomenal. Dá realmente a sensação que você está em uma guerra épica, e o que mais chegou perto disso foi Dragon Age: Origins, mas Baldur’s Gate 3 faz isso em proporções muito maiores. Eu estava muito emocionado com o destino de alguns personagens, e as decisões, muitas vezes agridoces que você tem que tomar a respeito de algumas coisas tornam tudo um turbilhão de emoções. O destino de muitos personagens particularmente me emocionou muito, e não tenho como explicar sem dar spoilers, porque determinados personagens parecem fadados a determinados destinos e de repente surgem decisões agridoces que podem mudar esses destinos, isso é tudo que posso falar.

A dificuldade também é um fator que me surpreendeu, consegui derrotar o último boss de primeira, mas apenas com um personagem vivo (não se preocupe, os outros personagens “ressuscitam” automaticamente quando o boss é derrotado e a história continua com eles vivos), pois foi uma batalha de proporções épicas que exigiam cada vez mais e mais estratégias, trabalho em equipe e concentração.

Li também acusações sobre o final ter sido “apressado” e discordo completamente, as cenas finais são lindas e encerram de forma extremamente satisfatória o jogo. O problema é que não temos, como costumamos ter nos RPGs clássicos, os costumeiros “slides” explicando passo a passo o que aconteceu com todas os personagens e com tudo o que o jogador fez ao longo do jogo. Mas, sinceramente, não senti falta dele. O que o jogo me apresentou por si só foi mais que o suficiente para me emocionar profundamente e há muito tempo não me envolvia dessa maneira com um jogo. Hoje em dia muitos jogos são espetaculares, mas nem sempre conseguem fazer bons finais. Baldur’s Gate 3 faz um final épico e absolutamente perfeito.


O GAMEPLAY

Desde o início, achei as batalhas e a jogabilidade simplesmente fantásticas, isso porque estou acostumado com o sistema D&D 5e (quinta edição) e suas regras, que o jogo adapta, retirando algumas, alterando e acrescentando outras que, quem é experiente no sistema nota logo de cara. Infelizmente, o jogo não é muito amigável para quem não entende de D&D ou para quem não entende muito de RPG no geral. Vi, infelizmente, muitos jogadores novatos passando dificuldade por causa do sistema em passagens do jogo que eram para ser bem simples. O jogo também não contém um glossário, que, ao meu ver, faz MUITA falta para imergir os jogadores no mundo de D&D, saber quem são os devoradores de mente, os githyanki, os hobgoblins, bugbears, os bruxos, os demônios, os diabos, os planos, etc.

A criação de personagem já demonstra a excelência do jogo: com você podendo escolher entre um personagem existente na trama (e com um trailer que dá um “gostinho” de como é aquele personagem) ou você podendo criar o seu próprio, inclusive escolhendo genitália, voz e pronomes como você bem entender, para delírio dos nerdolas. No entanto, o criador não é muito profundo no que diz respeito ao rosto do personagem: você escolhe um tipo de rosto, cor dos olhos, tipo de barba/cabelo e era isso. Não pode mexer no nariz, boca, queixo, etc, como na maioria das criações de personagens nos jogos.


Melhor personagem


No entanto, a adaptação das regras é, ao meu ver, excelente. Os combates são muito bem planejados para que o jogador escolha cuidadosamente suas ações ao invés de sair atacando estilo LEEROY JENKINS. Os inimigos são muito variados, desde goblins, hobgoblins, devoradores de mentes, githyankis, drows, duergars (anões do submundo), esporos, minotauros, diversos tipos de mortos-vivos, bruxas, sombras, monstruosidades, feras, animais, demônios/diabos, etc. Além disso, há diversos tipos de estratégias do que apenas causar dano nos adversários. Habilidades/magias ou até mesmo a ação de empurrar o adversário é extremamente satisfatória de usar quando dá certo. Até mesmo chefes perigosos podem ser facilmente derrotados jogando-os de um abismo ou com a aplicação de magias/técnicas certas.

O jogo também adapta muito bem as rolagens de dados. É muito satisfatório ver o d20 rolando na tela, com o jogo mostrando os possíveis bônus opcionais que você pode acrescentar e as penalidades e bônus já preexistentes. É também necessário escolher qual personagem é melhor para cada teste. Um ladino ou um ranger, por exemplo, são as melhores escolhas para abrir baús e desarmar armadilhas. Já para investigar uma barreira mágica e saber do que ela é constituída, um mago com inteligência alta e proficiência em arcanismo é mais indicado.

Durante o jogo, o jogador pode sair de muitas situações através de persuasão, intimidação e manipulação. No entanto, essas perícias estão ligadas ao carisma, portanto se o jogador não estiver jogando com uma classe em que o carisma seja um atributo importante, pode achar muito difícil se livrar dessas situações dessa forma. Por isso bardo tem sido uma classe inicial tão popular, pois é disparado o melhor personagem para essas situações. Mas é triste que isso seja situacional ao personagem. Muitas vezes meu personagem bardo falhava em testes de história e arcanismo porque realmente não eram sua especialidade, e você não podia pedir ajuda a um companheiro que fosse bom nessas perícias. Ao meu ver, os RPGs  podem aprender com o exemplo de Pathfinder, que deixa o companheiro com a melhor perícia fazer o teste, ao invés de, quase sempre, o personagem principal. Isso também poderia trazer mais profundidade aos personagens, que podem demonstrar seus conhecimentos sobre história, arcanismo, religião, etc. Há algumas situações onde todo o grupo pode fazer um teste, mas muitas vezes só o personagem principal pode (principalmente os testes de persuasão/intimidação/manipulação), o que é uma pena.

O jogo dá bastante liberdade para o jogador sair explorando como bem entender, embora possa cair em áreas que seu nível seja muito baixo, mas o jogo também permite que você saia daquela área para voltar depois. O jogador também não precisa economizar nos descansos longos, fundamental não apenas para recuperar vida e slots de magia, como até mesmo para avançar a história, tanto a história principal como o relacionamento com companheiros. O jogo também avisa claramente quando você está entrando nos famosos “pontos de não-retorno”, ou seja, aquela parte do jogo que fará a história avançar e que o jogador só deve entrar se tiver feito realmente tudo o que queria ter feito (side quests, exploração, etc).

No geral, achei a gameplay fascinante, com cenários incríveis e variados. Desde praias e belos campos, até pântanos, o famoso “underdark” (não lembro como foi traduzido, Umbreterna, salvo engano) onde vivem diversos tipos de criaturas (a maioria malignas), infernos, pântanos e, claro, a incrível cidade de Baldur’s Gate. Apesar de, como mencionei, algumas falhas e coisas que poderiam ter sido implementadas melhores, no geral a Larian fez um ótimo trabalho.

O meu destaque negativo vai para algo que já é de costume nos jogos da Larian: itens inúteis por toda parte. O jogo é cheio de itens que não servem para absolutamente nada que você pode acabar pegando sem querer, desde facas, garfos, cogumelos mofados, etc. Há também vários “loots” vazios (eu já aprendi desde Divinity a simplesmente ignorar barris, caixotes, basicamente qualquer coisa que não seja um baú ou uma estante: dificilmente há algo que preste, isso quando há algo de fato). Isso se torna muito irritante, principalmente porque dificulta muito a administração do inventário (algo que muitos RPGs têm dificuldade e que não é exclusivo da Larian). Acho que simplesmente não há motivo para colocar tantos itens inúteis e interações inúteis como cadeiras, sofás, candelabros, espelhos, retratos, etc, a menos que tenham realmente alguma função (como revelar um cofre escondido ou algo do tipo). No entanto, isso é apenas um detalhe no mar de qualidade que é o jogo

 

ÁUDIO E TRILHA SONORA

Aqui, novamente, o jogo é impecável. Eu confesso que a trilha sonora da Larian nunca me pegou muito em Divinity. Não consigo lembrar de uma única música de Divinity 1 ou 2. Já aqui, é muito difícil não ser pego pelo tema principal, pelas músicas de chefe (especialmente o chefe da Casa da Esperança, uma das melhores lutas e músicas de chefe do jogo), e pelo cativante “down down down by the river”.

O jogo alterna bem entre músicas de chefes, músicas de taverna, músicas de cidade, músicas de combate, músicas para climas tensos, etc. A Larian finalmente acertou em cheio na trilha sonora e nas músicas e não acho que nenhum jogo esse ano tenha feito algo tão especial nesse sentido quanto Baldur’s Gate 3. Estou escrevendo isso enquanto “down down down by the river” não sai da minha cabeça. As músicas que tocam durante os créditos uma depois da outra vão dando cada vez mais vontade de chorar.

E aqui, destaco não só a qualidade do áudio, mas também a qualidade da dublagem: desde os companions até os NPCs mais secundários, todos têm uma dublagem de altíssima qualidade, que passam de forma espetacular a raça e personalidade dos personagens. Meu destaque particular vai para Matthew Mercer, que interpreta o carismático patrulheiro Minsc, um dos favoritos dos fãs da saga Baldur’s Gate e que faz um épico retorno nesse jogo, com uma dublagem impecável que fazem jus ao carisma e à personalidade do personagem. Ao meu ver, alguém que pode ser facilmente indicado (e ganhar) o prêmio de melhor performance no Game of The Year.


O melhor careca

 

CONTRAS


Aqui vão algumas pequenas coisas que me incomodaram durante o jogo, que também vou dividir em sessões. Algumas eu citei já enquanto elaborava as qualidades do jogo, mas outras em especial são tão irritantes que merecem suas próprias sessões. Novamente quero deixar claro que essas falhas em nada diminuem o quanto o jogo é absolutamente maravilhoso: mas NENHUM jogo, por melhor que seja, é isento de falhas, e aqui vão algumas que eu acho que infelizmente Baldur’s Gate 3 peca com força

 

PROBLEMAS TÉCNICOS

Eu inicialmente tinha ficado fascinado com como o jogo estava rodando bem. Não tenho uma placa considerada nem de perto de última geração (1050ti), e mesmo assim estava rodando a maioria das coisas no alto/ultra a 60 fps sem frame drop e com uma performance muito boa. No final do ato 2 já houve algumas quedas que me obrigaram a diminuir um pouco algumas partes gráficas do jogo.

No entanto, quando o jogo entra no ato 3, a mudança é tão brusca que fica difícil de acreditar que é o mesmo jogo. Como é que no ato 1 eu jogava tudo no alto/ultra a 60 fps e no ato 3, colocando tudo no mais baixo possível e limitando a 30 fps a maioria das vezes o jogo roda como se eu estivesse jogando em uma batata? É compreensível visto que o ato 3 se passe em uma cidade, e a cidade é rica em NPCs que dão vida a ela, mas a queda de frames, o delay de renderização, os loadings absurdamente longos (mesmo com o jogo instalado em SSD) são inadmissíveis para um AAA desse tamanho. E, mesmo depois de 20 dias, a Larian ainda não resolveu esses problemas (tendo tido apenas alguns mínimos hotfixes). Tive grandes dificuldades para zerar o jogo porque muitas vezes o jogo rodava ABSURDAMENTE MAL e, ao tentar carregar o jogo, a tela de loading ficava “presa” como se o jogo tivesse crashado e eu tinha que escolher entre esperar voltar ao normal (o que demorava cerca de 2-3 minutos) ou fechar o jogo pelo gerenciador de tarefas e abrir de novo. Creio que o ato 1 estava mais polido por ter sido o único ato disponível no Early Access, e, portanto, a Larian teve bastante feedback dos jogadores, mas essa queda de qualidade técnica em um jogo desse tamanho é absurda.

Eu queria ter explorado mais a cidade, deixei muitas partes do mapa “em preto” e talvez tenha perdido quests ou interações ou personagens porque tava muito difícil navegar pela cidade com essa situação técnica, o que é realmente uma pena, porque a cidade ficou maravilhosa e muito bem feita. Espero que consertem isso no futuro e que eu possa ter uma rejogabilidade “mais completa”.

 

QUESTS E PUZZLES

A Larian definitivamente não sabe fazer puzzles e deveria parar de fingir que sabe. Principalmente no ato 3, alguns puzzles são tão infernalmente chatos que é impossível resolvê-los sem olhar na internet. Alguns exemplos: há um puzzle que simplesmente EXIGE que você tenha a magia “Remover Maldição”. Se você não tiver, NÃO TEM COMO RESOLVER O PUZZLE. E isso não é o pior: o jogo não dá nenhuma dica de que você deva lançar essa magia, fazendo o jogador quebrar a cabeça até procurar na internet e ficar puto com algo tão ridículo. Outro puzzle EXIGE QUE VOCÊ SAIBA COMO JOGAR XADREZ. SE VOCÊ NÃO SABE XADREZ, NÃO VAI SABER RESOLVER O PUZZLE. E nem estou indignado porque não sei jogar xadrez, eu sei e resolvi o puzzle, mas acho absurdamente ridículo exigir esse conhecimento dos jogadores. Claro, você pode errar e aí você tem que enfrentar uma horda de monstros pro puzzle ser considerado “completo”, mas exigir que os jogadores saibam regras de xadrez para resolver um puzzle beira o ridículo.


Mate em 1... se você sabe o que isso significa.


Isso acontece também em diversos momentos em que uma quest indica algo muito vago, como por exemplo: “procure por Fulano, ele foi visto perto da água”. TEM UM CAIS INTEIRO PARA PROCURAR, com CENTENAS DE NPCs E DEZENAS DE CASAS, e você tem que sair procurando uma a uma! E pior, o tal Fulano estava escondido DENTRO DE UM GUARDA ROUPA, portanto se você não entra em uma casa específica e não vasculha aquele guarda-roupa específico, você nunca acha o personagem que é vital para completar uma quest! São coisas absurdamente ridículas, e, embora eu entenda que nós tenhamos nossas críticas ao modelo Ubisoft de “pegar na mão e apontar tudo no mapa e falar em voz alta o que você deve fazer e como resolver o puzzle”, a Larian absolutamente chuta o balde muitas vezes ao deixar o jogador vendado no escuro no meio de um tiroteio. Isso acontece também em lutas de chefe que são “puzzles” e que o jogo não dá nenhum indício do que está acontecendo. Há uma chefe, por exemplo, que te dá mais dano quanto mais dinheiro você tem, portanto você deve deixar todo o dinheiro no acampamento para enfrentar a chefe sem tomar uma surra. Ou seja, o jogo exige que você saiba PREVIAMENTE o que fazer para não ser estraçalhado por essa chefe (e em nenhum momento ele deixa claro o porquê ela está dando esse dano tão absurdo. Lá vai o Google ter que solucionar novamente o problema).

Cabe dizer que a maioria das quests e chefes são fascinantes e muito bem feitas, e dá muito gosto realizá-las. Já outras, por mais bem escritas que sejam, têm esse tom profundamente irritante, que já era típico nos jogos de Divinity e que a Larian só piorou ao trazer para o mundo de Baldur’s Gate 3.

A burrice artificial dos companions também não ajuda em nada. Em Divinity 2, ao verem armadilhas, os personagens no mínimo faziam o melhor para desviar delas, até onde me lembro, ou de lugares perigosos, como veneno ou chamas. Já nesse, a burrice artificial é um desastre. Mesmo após ver a armadilha, os personagens podem correr direto para ela (e por vezes ativar um efeito cadeia que prejudica a party inteira). Teve um determinado momento que eu não conseguia desarmar uma armadilha porque ela atingia em cone quem ficava na frente dela, e mesmo eu chegando por trás e clicando para o personagem desarmar, o personagem ficava na frente dela para começar a desarmá-la, ativando-a e sendo morto automaticamente antes que pudesse sequer rolar o dado para desarmá-la. Era de querer socar o monitor.


LEVEL CAP

O jogo vai até o nível 12, o que, ao meu ver, é MUITO baixo, não só levando em consideração o tipo de inimigos que o personagem enfrenta (não querendo dar spoilers, mas não são o tipo de inimigo que “aventureiros normais” enfrentariam, o jogo tem proporções épicas com inimigos épicos), como também o fato de que se chega lá muito rápido. Depois de chegar no nível 12, eu continuei o jogo e continuei ganhando experiência para ganhar, no mínimo, mais uns 3 ou 4 níveis caso eles existissem. Não sei o que levou à decisão do nível 12 ser o nível máximo, mas creio ter sido uma decisão errada. Minha esperança é que haja uma expansão no futuro que permita levar nossos personagens até o level 20 (nível máximo no D&D), embora a Larian jamais tenha lançado expansões para seus jogos anteriores, limitando-se a pequenas DLCs e enhanced editions. No entanto, a Larian também nunca lançou um jogo do porte de Baldur’s Gate 3 (e nunca ganhou tanto dinheiro com um jogo), então creio que possamos esperar mais do jogo do que apenas pequenas DLCs com cosméticos ou itens adicionais.

 

CONCLUSÃO

Bom, como vocês viram, os contras foram uma parte bem menor e com problemas bem mais específicos, mas que ainda assim merecem atenção. No geral, Baldur’s Gate 3, para mim, é uma obra-prima que me fez chorar, rir, chorar, rir e chorar de novo e me envolver muito emocionalmente com ele. Não me envolvia tanto com um jogo desde The Witcher 3, e isso é dizer muito, pois The Witcher 3 para mim também é um dos melhores de todos os tempos. Era um jogo que eu estava esperando há bastante tempo e não só ele fez jus a todas as minhas expectativas, como também superou todas elas. Eu já gostava dos dois Divinity da Larian, mas sempre senti que faltava “aquela coisinha a mais”, e isso é entregue em Baldur’s Gate 3 com maestria.

 

Na minha opinião, esse jogo, na premiação de Game of The Year deveria ganhar em:

- Jogo do ano

- RPG do ano

- Melhor direção

- Melhor narrativa

- Melhor trilha sonora e música

- Melhor design de áudio

- Melhor performance (Matthew Mercer - Minsc)

 

E deveria, no mínimo, ser indicado em melhor direção de arte, embora eu creia que vá ser difícil competir com Starfield ou até mesmo com Zelda nessa. Embora, novamente, eu ache que Zelda vá ganhar mais categorias puramente pelo marketing e pelo nome que tem, se fosse puramente por MERECIMENTO, Baldur’s Gate 3 venceria essas categorias. Infelizmente, sabemos como essas premiações funcionam.

 

Portanto, em resumo:

 

Pros:

- Narrativa excepcional, muito bem contada, com as coisas e personagens se revelando aos poucos nos momentos certos com bons plot twists e ótimas cenas. Escolhas difíceis para o jogador e um final emocionante e extraordinário com uma batalha épica. Excelentes diálogos.

- Personagens complexos muito bem feitos e atuados, com suas próprias missões excelentes.

- Boa adaptação do sistema de RPG D&D 5e, com combate estratégico que exige mais do que amassar dano nos oponentes.

- Trilha sonora e música impecáveis.

- Dublagem ótima.

- Visual lindo e variado.

- Diversidades de caminhos a se tomar, com grandes possibilidades de rejogar para ver outros caminhos.

- Umbralma.

 

Contras:

- Problemas técnicos expressivos, principalmente a partir do Ato 3.

- Quests e puzzles com difícil solução e sem dar dicas necessárias ao jogador, e que até mesmo exigem conhecimentos absurdos, deixando o jogador dependente do Google.

- Itens inúteis que dificultam gerenciamento do inventário e interação com o cenário.

- Burrice artificial dos companions na hora de lidar com terreno e armadilhas.

- Nível máximo muito baixo.

- “Desrespeito” com alguns personagens de Baldur’s Gate 1 e 2.

 

Bom, acho que consegui resumir tudo o que eu queria tirar do meu coração. Para mim, Baldur’s Gate 3 entrou facilmente no top de um dos jogos da minha vida, do qual jamais esquecerei, e provavelmente volte para ele algum dia, principalmente se a Larian lançar expansões/DLCs que aumentem o mundo do jogo e a história, como eu espero que lance, pois esse jogo merece.

Se é para fazer uma frase forte para resumir meu sentimento em relação ao jogo: agora que eu joguei Baldur’s Gate 3, eu sei que posso morrer em paz.

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